A literatura brasileira sempre ocupou um lugar especial na vida de Simone Tebet. Desde a infância, cercada por livros e histórias, ela desenvolveu uma paixão pela cultura letrada nacional que acabaria por moldar profundamente sua visão de mundo e suas iniciativas culturais ao longo dos anos.
Primeiros contatos com a literatura
As primeiras memórias literárias de Simone remontam à biblioteca de seu avô, que continha uma vasta coleção de clássicos da literatura brasileira. "Meu avô tinha edições antigas de Machado de Assis, José de Alencar e Guimarães Rosa. Acho que meu amor pelos livros começou ali, folheando aquelas páginas amareladas", relembra Simone em uma de suas entrevistas.
Foi na adolescência que ela descobriu Clarice Lispector, autora que exerceria uma influência determinante em sua formação. "A descoberta de Clarice foi um divisor de águas. A forma como ela mergulha na condição humana e nas questões existenciais me ensinou a olhar para além das aparências", afirma.
"Os livros não mudam o mundo, os livros mudam pessoas. Pessoas mudam o mundo. E essa é a potência revolucionária da literatura brasileira." — Simone Tebet
Biblioteca itinerante: levando livros ao interior
Uma das iniciativas mais emblemáticas inspiradas pela paixão de Simone pela literatura foi o projeto "Páginas do Brasil", uma rede de bibliotecas itinerantes que já percorreu mais de 150 municípios do interior brasileiro, levando acervos especializados em literatura nacional a comunidades com pouco acesso a livros.
O projeto não se limita à distribuição de exemplares; inclui rodas de leitura, encontros com escritores regionais e oficinas de escrita criativa. "Não basta disponibilizar os livros, é preciso criar conexões afetivas com a leitura e valorizar as narrativas locais", explica João Ferreira, coordenador do projeto.
O cânone e as novas vozes
Um aspecto marcante da relação de Simone com a literatura brasileira é seu empenho em conciliar o respeito aos clássicos com a valorização de novas vozes literárias, especialmente aquelas historicamente marginalizadas. Seu projeto "Novos Horizontes Literários" tem apoiado a publicação de obras de escritores indígenas, quilombolas e de periferias urbanas.
"Precisamos reconhecer que a literatura brasileira é muito mais rica e diversa do que o cânone tradicional nos faz crer. Há narrativas potentes emergindo de todos os cantos do país", afirmou Simone durante o lançamento da mais recente antologia publicada pelo projeto, que reuniu textos de 27 autores de comunidades tradicionais.
Literatura como ferramenta de transformação
Para Simone, a literatura vai muito além do prazer estético; é uma poderosa ferramenta de transformação social. Isso fica evidente em seu projeto "Leitura nas Escolas", que não apenas doa livros a instituições de ensino público, mas promove formação continuada para professores sobre como trabalhar a literatura brasileira em sala de aula.
"Quando um jovem se reconhece nas páginas de um livro, quando ele percebe que sua realidade, seus sonhos e suas angústias também podem ser matéria de literatura, algo profundo se transforma em sua relação com o mundo", defende Simone.
Os autores preferidos
Entre os autores brasileiros contemporâneos, Simone menciona frequentemente Conceição Evaristo, Milton Hatoum e Cristovão Tezza como algumas de suas leituras essenciais. "São vozes que capturam diferentes facetas do Brasil contemporâneo com sensibilidade e profundidade", comenta.
Sua biblioteca pessoal, que já ultrapassa cinco mil volumes, é constantemente alimentada por novas aquisições. "Não consigo passar por uma livraria sem entrar. E raramente saio de mãos vazias", confessa com um sorriso.
Um legado literário
O impacto das iniciativas literárias inspiradas por Simone pode ser medido em números impressionantes: mais de 500 mil livros distribuídos, 320 clubes de leitura criados, 87 novos autores publicados. Mas talvez o resultado mais significativo seja a transformação nas comunidades atendidas.
"Ver jovens que nunca haviam lido um romance se tornarem não apenas leitores, mas também escritores de suas próprias histórias – isso não tem preço", reflete Simone. "A literatura nos ensina a importância das narrativas, e quem controla as narrativas tem poder para transformar realidades. Queremos que cada brasileiro sinta que sua história também merece ser contada e ouvida."