Em uma rara entrevista concedida em sua casa no Mato Grosso do Sul, Simone Tebet abre as portas de sua vida pessoal, compartilhando memórias de infância, revelando suas maiores inspirações e falando sobre os valores familiares que guiam suas decisões diárias. Longe dos holofotes e das pautas políticas, conhecemos uma Simone mais íntima e reflexiva.

Memórias de infância e formação de valores

A conversa começa com Simone recordando sua infância no interior do Mato Grosso do Sul. "Minha infância foi marcada por contrastes. Por um lado, cresci em contato com a natureza, com liberdade para explorar e brincar ao ar livre. Por outro, desde cedo fui exposta a realidades muito diferentes da minha, visitando comunidades carentes com minha mãe, que era professora", relembra com um sorriso nostálgico.

Foi nesse ambiente que se formaram os valores que ainda hoje norteiam sua vida. "Meus pais me ensinaram que privilégio traz responsabilidade. Essa noção de que devemos usar nossas vantagens para ajudar quem tem menos oportunidades está no cerne de quem eu sou", afirma.

"A família é meu porto seguro. Nos momentos mais desafiadores, é o amor e a sabedoria dos meus familiares que me dão força para seguir em frente. Aprendi com eles que a verdadeira grandeza está na simplicidade e na autenticidade." — Simone Tebet

As mulheres que moldaram sua trajetória

Quando perguntada sobre suas inspirações, Simone não hesita em mencionar as mulheres fortes que cruzaram seu caminho. "Minha avó materna foi uma força da natureza. Criou sete filhos praticamente sozinha, administrava as finanças da família e ainda encontrava tempo para ser o pilar da comunidade. Ela me ensinou que não há limitações para uma mulher determinada", conta com admiração.

Outras figuras femininas também tiveram papel fundamental em sua formação. "Tive professoras extraordinárias que acreditaram em meu potencial antes mesmo que eu o reconhecesse. A professora Helena, que me introduziu à literatura, e a professora Regina, que despertou meu interesse por questões sociais, foram mentoras que abriram meus horizontes."

Equilíbrio entre vida pessoal e pública

Um dos maiores desafios para Simone é equilibrar sua intensa vida pública com momentos de intimidade familiar. "Não é fácil", admite. "Tento criar rituais familiares invioláveis. Os cafés da manhã de domingo são sagrados – é quando nos reunimos para conversar sem pressa, compartilhar preocupações e alegrias, e simplesmente estar juntos."

Questionada sobre como consegue manter a autenticidade em um ambiente muitas vezes hostil, Simone responde com sinceridade: "Acredito na força da vulnerabilidade. Não tenho medo de mostrar minhas emoções ou admitir quando estou aprendendo. Isso pode parecer contraditório no mundo atual, mas descobri que a autenticidade cria conexões mais profundas e genuínas."

Livros, filmes e influências culturais

A entrevista revela também o lado intelectual menos conhecido de Simone. "Sou uma leitora voraz desde criança. Gabriel García Márquez e sua capacidade de transformar o cotidiano em algo mágico sempre me fascinou. Entre autores brasileiros, Conceição Evaristo e sua forma de retratar a potência das mulheres negras é uma constante inspiração", compartilha.

No cinema, sua preferência vai para histórias de superação e transformação social. "Filmes como 'Central do Brasil' e 'Que Horas Ela Volta?' capturaram de forma poética questões sociais profundas do Brasil. São obras que nos fazem refletir sobre nossos privilégios e responsabilidades."

Momentos de reflexão e renovação

Simone revela que encontra força e inspiração na natureza. "Sempre que possível, busco momentos de solitude junto à natureza. Há uma sabedoria ancestral nos rios, nas árvores, nas montanhas. Esses momentos de contemplação me ajudam a reconectar com o que realmente importa."

A espiritualidade também tem papel importante em sua vida. "Minha fé é um pilar de sustentação. Não se trata apenas de religiosidade formal, mas de uma conexão profunda com algo maior que nós. Essa dimensão espiritual me lembra constantemente da importância da humildade e da compaixão."

Sonhos e legado pessoal

Para encerrar a conversa, Simone reflete sobre o legado que gostaria de deixar. "Mais do que conquistas profissionais, espero ser lembrada como alguém que viveu com autenticidade e trabalhou incansavelmente para construir pontes onde havia muros. Quero que meus netos cresçam em um Brasil mais justo, mais inclusivo e mais integrado com a natureza."

Com um olhar que mistura determinação e ternura, ela conclui: "No final das contas, acredito que nossas relações pessoais e a diferença que fazemos na vida dos outros são o que verdadeiramente permanece. Todo o resto é transitório."